terça-feira, 30 de maio de 2017

Adoptada


Incrível o que a vida nos põe no caminho.
Não sonhei em ficar sozinha com 2 crianças de 3 anos e 17 meses e meio devido a um divorcio.
Nunca me passaria pela cabeça um dia emigrar para a Alemanha.
Não me passou pela cabeça vir morar para uma cidade a qual não gostei assim que entrei nela.

Decidi ficar, aprendi a língua em ano e meio e depois de 2 anos e meio a trabalhar na "ignorância" dos meus direitos de trabalhadora e sempre com um sentimento de super gratidão que foi usado em proveito deles, decidi que a minha vida tinha de continuar em frente e não estagnar numa cozinha de 12 metros quadrados com 3 pessoas lá dentro, impossibilitada de estar com os meus filhos e correndo o risco de ter dois delinquentes em casa.

Disse basta dei o grito de Ipiranga e tentei a minha sorte como estudante aos 41 anos, acabar o que deixei por acabar há quase 20 anos... quase.

Lutei, bati com a porta na cara, endividei-me por um curso em Engenharia Industrial que me tem tirado o couro, mas agora que estou no segundo semestre a mês e meio de acabar posso fazer um pouco de analise e chego talvez agora á conclusão, ainda precoce (pois faltam os próximos exames) de que não tem corrido bem, faltam-me muitos créditos mas todas as disciplinas práticas concluidas falta passar os exames.

Mas lá tenho dado a volta e neste momento sou trabalhadora estudante, aliás trabalhadora também só o sou até amanhã ( isto de ir dormir ás 8 da noite e acordar ás 3.45 da matina não faz parte do meu sistema, sou madrugadora mas não assim tanto, gosto de acordar cedo, mas estes 3 meses desestabilizaram por completo a minha vida de estudante, se dormi 2 noites bem foi uma sorte porque a maior parte levo a noite a acordar com receio de adormecer e não acordar para ir trabalhar), não pensem que não preciso de dinheiro pelo contrario... servia para pagar o nosso seguro de saúde obrigatório por estes lados, agora tem de vir de outros biscates e de apertar mais o cinto.

"AAAhhh mas tens ajuda do Estado!", não não tenho!

" Na Alemanha eles dão ajuda para tudo !"
Tenho menos regalias do que se fosse desempregada, sendo estudante não tenho regalias nenhumas, mas se fosse para ficar em casa sem emprego até os cortinados eles ajudavam a pagar.

Não interessa! Está resolvido este assunto... mas porque eu resolvi. Até fui pedir conselhos de alguém que trabalha no assunto e a sra. deu-me os parabéns porque as minhas resolucões para solucionar a minha situação e poder estudar a tempo inteiro eram as acertadas e iriam resultar, ela não podia fazer nada por mim porque eu já tinha feito o trabalho dele sozinha.

Entretanto, já na Uni dou comigo no meio de "putos" de 17, 18, 19 aninhos alguns fresquinhos fresquinhos, que me aceitam sem saber a minha idade e que quando me conheceram melhor adoptaram-me como a "Mamma" e eles são os meus "Kids" ás vezes dão-me mais trabalho e dores de cabeça do que os meus Brownies mas devo dizer que se os meus Brownies um dia forem como eles eu posso dizer que fiz um bom trabalho a educá-los porque os meus "kids" são um espectáculo.

Há uns meses decidimos festejar algo e seria a última oportunidade antes dos exames, eu bebi um pouco mas ao final da noite alguém decidiu pedir uma Tequilla Bum Bum, aquilo caíu-me mal, mas tão mal que acabei a sujar e a limpar a casa de banho do bar onde estávamos, entupi os canos com uma Pizza picadinha... Hhahahahahah é nojento eu sei.
A Mary só dizia para eu não limpar e para tentar sair dali para deixar de me comportar como mãe que limpa tudo, eu não conseguia, ao fim de algum tempo lá conseguimos sair do WC a dona do bar veio atrás de nós a pedir 10€ para pagar aquela sujeira, o Somer deu-lhe 5€ era o que tinha e lá vieram todos (deviam ser uns 8-9), trouxeram-me a casa e eu joguei-me na cama, a Mary entrou em todas as divisões a ver se encontrava um alguidar para o caso de eu precisar, acordaram os Brownies, mas estes pensaram que era um sonho deixaram-se ficar Hahahaha.
 O Timotio adorou a gata foi para lhe dar festinhas levou uma dentada. Deixaram-me, isto devia ser umas 23 horas e continuaram a festa noutro lugar até ás tantas. Ás 6 da manhã eu estava fresca que nem uma alface e eles acabados, eu fui ás aulas e eles também mas com umas caras Hahahahahah

Até hoje há brincadeiras á volta da Tequila, mas todos me respeitaram e não contaram a ninguém o que se passou quem sabe soube pela minha boca... Impecável, mas adoraram o facto de eu me ter juntado a eles sem preconceitos.

E tem sido assim a nossa relação, criei um grupo de Whatsapp para o nosso curso e o nosso ano com o objectivo de nos inter-ajudarmos e passarmos informações tem resultado muito bem e tem feito deles um curso mais unido.

No inicio do ano lectivo dei guarida a um norte americano e um Caribenho durante 2 semanas, estiveram aqui connosco, são os meus segundos filhos, é só ligar que eles veem ter comigo e preocupam-se. O Americano infelizmente não aguentou a pressão da mudança, ficou doente com o "virus do beijo" e apesar de ter namorada alemã, voltou para os EUA e infelizmente eu penso que não voltará. Cheguei a conhecer os seus Pais que o vieram buscar, super simpáticos.

Ajudei outros a encontrar casa, a conseguirem se movimentar na Alemanha nos primeiros tempos. E não conto isto para me gabar, mas sim para mostrar que apesar de termos pouco podemos sempre ajudar. Sempre ouvi dizer que faz mais quem quer do quem pode. E a forma de agradecer á vida por me ter posto boas pessoas no meu caminho que me ajudaram é ajudando os outros sem pedir nada em troca.

Mas a minha vida Universitária não se limita ao pessoal do meu curso, tenho conhecido pessoas de todo o lado do Mundo de todas as religiões e culturas e de todas as faculdades, é uma experiência fora do normal que nunca pensei.

Os Brasucas, os Latinos, os Africanos, os Asiáticos, os Americanos, os árabes e até aqueles que dizem que nem sabem de onde são originalmente pois já rodaram continentes e não se conseguem identificar com nenhum deles... são os filhos do Mundo.
O pessoal da Coreia, Japão, China é que não se misturam muito ou quase nada não consegui ainda entender.

Posso dizer que tenho conhecido muita gente e sou grata por isso e que neste momento me sinto a pessoa sociável que era há uns anos atrás e que deixei de ser quando parti nesta aventura de emigrante.
É verdade que não tenho mais 18 aninhos, os meus ossos bem me avisam, mas a minha idade mental não acompanha as mazelas do corpo e isso é tão bom, mas os neurónios que estão ligados á parte do estudo é que teem feito muitas horas extraordinárias a tentar acompanhar os de 18 anos saídinhos do Gimnasium com todos os conhecimentos frescos e a borbulhar. Mas hão-de lá chegar não é Tico e Teco?

Bis bald

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